quinta-feira, 31 de agosto de 2017

ALGUNS DOS PROBLEMAS DOS PROFESSORES SÃO TAMBÉM PROBLEMAS NOSSOS

Apesar de alguma mudança positiva na vinculação de professores contratados a situação continua complicada para um número muito significativo de professores. Este ano o processo de colocação e contratação dos professores parece estar a acontecer mais cedo que o habitual o que se saúda. No entanto, continuam a referir-se insuficiência de docentes e algumas falhas processuais ou na definição de critérios e prioridades.
Durante estes processos conhecem-se sempre episódios que ilustram, por um lado, como é imperiosa a transparência, clareza e competência nas questões processuais da colocação e contratação e, por outro lado, as consequências pessoais para muitos professores atropelados por estas situações.
Será que alguma vez poderemos ter um processo estável, com regras claras e que decorra em tempo oportuno?
Muitos dos professores que ainda procuram o milagre de uma sala de aula onde possam exercer a sua profissão têm uma larga experiência docente e avaliada. Estes professores estão há muitos anos a colmatar “necessidades reais e permanentes” do sistema".
Em que outra profissão pode acontecer milhares de pessoas prestarem de forma continuada durante anos, muitos anos, serviço ao mesmo empregador sem aceder a um vínculo estável que lhes permita criar uma imagem de futuro e uma perspectiva de carreira.
Como muitas vezes tenho afirmado, parece-me claro que a questão do número de professores necessário ao funcionamento do sistema é uma matéria bastante complexa que, por isso mesmo, exige serenidade, seriedade, rigor e competência na sua análise e gestão, justamente o que tem faltado em todo este processo desde há muito, incluindo a alguns discursos de representantes dos professores.
Para além da questão da demografia escolar que, aliás, a tutela sempre tratou de forma incompetente e demagógica, as necessidades têm de ser analisadas à luz das políticas educativas. Este entendimento é bastante claro quando se observa a Grande Marcha de professores para fora do sistema promovida nos últimos anos, não é um problema de demografia, é um problema de política educativa.
Nesta perspectiva, julgo que quando se enuncia e define o perfil do aluno do Séc. XXI, quando se afirma a necessidade uma escola que responda a todos os alunos com qualidade e capaz de promover esse perfil, não pode esquecer-se que os professores, funcionários e técnicos são, por assim dizer, os obreiros dessa estrada e o seu efectivo deveráresponder às necessidades reais das comunidades. Precisam de ter condições de estabilidade, valorização social e profissional para que da sua acção resulte o que se espera, a construção do futuro.
Por isso, como muitas vezes afirmo, alguns dos problemas dos professores são também problemas nossos.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O REGRESSO

Através de uma porta pequena Cavaco Silva saiu da actividade política. Hoje, também por uma porta pequena, o aparelhismo jotista, regressou à actividade política. Nada de novo, sem surpresa.
Cavaco Silva foi o cidadão como uma mais longa e relevante carreira política em Portugal depois de 1974. Sempre se apresentou como um não político e com um discurso arrogante pequenino face à política. Considerou-se sempre acima dos "mesquinhos" interesses da classe "política". Um fado conhecido da Manuela de Freitas e cantado por José Mário Branco diz, "canta com aquilo que és, só podes dar o que é teu". Cavaco Siva sempre quis dar o que não era seu, a visão a clarividência, a seriedade política e intelectual, a isenção face aos interesses partidários.
Cavaco Silva sempre agiu com o que era seu, a pequenez autocentrada, a arrogância, a defesa clara dos políticos e das ideias" amigas", uma máscara mal composta de Homem acima dos homens. A sua intervenção de hoje, segundo o que li na imprensa mantém um elevado grau de coerência.
Partiu sem saudades, sem peso, sem grandeza.
Este regresso confirmou-o.

O FUTURO PASSA POR AQUI

Com o ensino superior a viver de reestruturação existe um pequeno nicho do ensino “universitário” que no final do Verão entra em franca actividade e sem aparentes sobressaltos.
Refiro-me às Universidades de Verão organizadas pelas diferentes estruturas partidárias sendo que o CDS-PP recorre a uma designação mais moderna e sofisticada, uma coisa mais moderna, “A Escola de Quadros”, este ano adida para depois das autárquicas. Está a decorrer a Universidade de Verão do PSD sempre com a organização do reitor e eurodeputado Carlos Coelho e com a presença tutelar e reitoral desse vulto ímpar da academia, o Dr. Marco António Costa. Assinale-se este ano a presença dos Professores Cavaco Silva e Sérgio Sousa Pinto, este do PS e também uma produção aparelhista.
Confesso que fico sempre impressionado com estas iniciativas e julgo que devem ser olhadas com particular atenção.
Em primeiro lugar porque penso que os estudantes que as frequentam, depois de passarem por sucessivos dispositivos de selecção e exames que certifiquem a qualidade da sua preparação, são certamente de um nível de excelência que autoriza pensar estarmos na presença de uma elite de que o país muito espera e, seguramente, beneficiará.
Por outro lado, é de registar a composição do corpo docente destas Universidades. Para além de figuras reconhecidas do mundo universitário, os estudantes têm a possibilidade de ouvir lições de notáveis “aparelhistas” dos respectivos partidos que carregam uma enorme formação, inicial e pós-graduada a se junta uma enorme experiência em alpinismo social e político, em jogos de bastidores e em gestão de interesses que contribuirão de forma marcante para a formação dos jovens quadros que estão na incubadora, por assim dizer, e seguirão as passadas de figuras brilhantes e incontornáveis de ex-jovens quadros que ocupam as lideranças das diferentes estruturas partidárias.
Na verdade, estas Universidades de Verão, ou Escola de Quadros, culminam um longo trabalho de formação e qualificação realizado pelas juventudes partidárias e que finalmente é certificado com a excelência aqui atingida.
É nestas actividades académicas que se forjam verdadeiramente os líderes de amanhã, é importante segui-las com atenção. O futuro passa por aqui.

EPPUR SI MUOVE

Esta questão, a paternidade de padres e freiras que durante séculos abandonam milhares de crianças fruto do “pecado” negando-lhes um pai ou uma mãe, é apenas um das muitas questões que evidencia o imobilismo da igreja católica.
Considerando a influência que ainda mantém em muitas comunidades, recordo que D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, afirmava em 2012, em entrevista ao JN, que a Igreja não está à altura do momento, está "atrasada" e não presta atenção às "transformações do mundo".
A afirmação de D. Manuel Martins lembrou-me o conhecido enunciado, "no entanto ela move-se". Ao que a história ou a lenda rezam, no séc. XVII Galileu Galilei reagiu com esta mítica afirmação à sua condenação no Tribunal do Santo Ofício pela defesa do modelo heliocêntrico, a Terra move-se em volta do Sol.
Do meu ponto de vista, a reconhecida perda da influência da Igreja Católica, sobretudo nos países mais desenvolvidos, deve-se também ao seu imobilismo, à forma conservadora como não reage às óbvias mudanças sociais, políticas, económicas e culturais sustentando um progressivo afastamento da vida das pessoas, como reconhecia D. Manuel Martins.
Um dia, talvez a instituição Igreja aceite e perceba a importância e a necessidade de mudança no discurso e nas atitudes relativas ao divórcio e casamento, às uniões entre pessoas do mesmo sexo e adopção por parte destes casais, à anti-concepção, ao celibato dos padres, à abertura do sacerdócio às mulheres, o combate à ostentação visível em parte das estruturas da igreja, etc.
No entanto, considerando o que se tem ouvido e é conhecido das intervenções da hierarquia da Igreja, não creio que, apesar de alguns comportamentos e discursos do Papa Francisco e também da significativa mudança de estilo face ao seu antecessor Bento XVI, seja de esperar um movimento de alteração significativa nas posições da Igreja sobre estas matérias.
Eppur si muove.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

O MUNDO ÀS COSTAS

Uma vez mais, uma chamada de atenção para o mundo que os miúdos carregam às costas.
A Deco realizou um estudo envolvendo alunos e seis escolas públicas e privadas da região de Lisboa segundo o qual dois terços dos alunos carregam nas mochilas um peso superior aos 10% do peso corporal de acordo com a OMS.
A questão é recorrente e em Março a Comissão Parlamentar de Educação e Ciência decidiu criar um grupo de trabalho para análise da Petição sobre o peso excessivo das mochilas escolares. O objectivo seria a tentativa de apresentação de uma iniciativa legislativa que envolva o contributo integrado das diferentes bancadas parlamentares.
A tradicional dificuldade no estabelecimento de consensos relativamente à educação deverá ter obstado a que se conheça algum resultado desta iniciativa.
Apesar entender que nem tudo deveria carecer de ser legislado, o bom senso deveria bastar mas assim não é, esperemos que algo surja no sentido de minimizar a situação que para algumas crianças é mesmo pesada. Daí a insistência.
Como é óbvio esta preocupação, pelas suas implicações e riscos, imediatos e a prazo, para a saúde dos miúdos, deve merecer a atenção de pais e educadores no sentido de a minimizar, embora, por outro lado, o seu transporte configure um exercício físico que disfarça a ausência de espaços e equipamentos adequados em muitas das nossas escolas e combata uma infância sedentarizada, a troco, é certo, de uma coluna castigada.
No entanto, aproveitando o espaço e o tempo de reflexão criados talvez também fosse útil olhar de uma forma mais alargada para o peso excessivo que muitas crianças carregam nas suas costas.
As mochilas escolares serão apenas um dos carregos, por assim dizer, mas existem outros.
Estou a pensar no peso da pressão para que sejam excelentes.
Estou a pensar no peso da pressão para que sejam o que não são e da pressão para que não sejam o que são.
Estou a pensar no peso da pressão de viver demasiado só.
Estou a pensar no peso da pressão que leva a que, por vezes, só gritando e agitando-se se façam ouvir.
Estou a pensar no peso da pressão de não conhecer o caminho e sentir-se perdido.
extou a pensar no peso da exclusão que muitos sofrem.
Estou a pensar no peso da pressão de actividades sem fim e, às vezes, sem sentido. Estou a pensar no pessoa da pressão do depressa e bem.
Estou no peso da pressão para sejam diferentes e na pressão para que sejam iguais.
Estou a pensar no peso da pressão causada por famílias demasiado distantes ou por famílias demasiado próximas ou ainda por famílias ausentes.
Na verdade, há miúdos que carregam o mundo às costas. Entende-se as preocupações dos pediatras, ortopedistas, outros especialistas e de muitos de nós com a coluna dos miúdos.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

OS ATRAVESSADIÇOS

Ao fim da tarde, depois da lida de sábado e como é hábito lá no monte ficámos algum tempo nas lérias, eu e o Velho Marrafa.
A conversa encaminhou-se para as dificuldades de muitas pessoas e o fardo pesado que carregam. O Velho Marrafa dizia que as pessoas do Alentejo, sobretudo os mais velhos, estão habituadas a fardos pesados, a vida sempre lhes foi dura. Para exemplificar, falou do longo caminho que foi percorrido desde que começou a guardar porcos aos nove anos, ao trabalho de sol a sol, muitas vezes até sete dias na semana, a passagem por ter e ganhar os feriados, passar a trabalhar só as oito horas e a riqueza de ter férias pagas.
No fim da sua viagem o Mestre Zé conclui com a tranquilidade que nele parece um ser e não um estar que culpa de muitos problemas, de hoje e de sempre, é dos atravessadiços. Provavelmente, tal como eu, ficarão intrigados com a referência.
Pois o Velho Marrafa esclareceu que os atravessadiços são aquelas pessoas que sendo assim "atravessadas" só pensam nelas, nunca pensam nos outros. Fazem tudo para sair beneficiadas mesmo que isso possa prejudicar os outros. Depois, à medida que têm mais coisas e mandam mais, ainda mais querem ter e mandar e como são atravessadiços, causam muitos problemas aos outros sem se preocuparem com isso. O Velho Marrafa rematava sem a menor dúvida, "Veja-me lá Senhor Zé se os que mandam, os que são grandes, se importam alguma coisa com os pequenos? Nada, mesmo nada".
Não é assim uma teoria muito sofisticada mas o Velho Marrafa é capaz de ter alguma razão. Anda por aí muito atravessadiço em lugar de mando.
São também assim os dias do Alentejo.

"A ENTRADA NA ESCOLA", UMAS NOTAS NA VISÃO

Umas notas na Visão online sobre a “entrada na escola”, uma das experiências irreversíveis na nossa vida. Quando não corre bem não é possível voltar atrás e tentar de novo para que corra melhor.

(…) a“entrada” na escola, a entrada no processo de formação escolar é e sempre será em modelos de escolarização desta natureza uma experiência tremendamente importante e capaz de marcar de forma muito positiva ou muito negativa todo o trajecto educativo posterior. (…)

domingo, 27 de agosto de 2017

O MUSEU DO BRINQUEDO

Não pude deixar de me comover com a peça do Público sobre o Museu do Brinquedo Português de Ponte de Lima. Ao que se lê, os brinquedos expostos no museu são uma pequena parte do acervo que a longa paixão de Carlos Anjos pelos brinquedos lhe tem permitido constituir.
Felizmente, ainda existe gente que cultiva a paixão pelos brinquedos e pelos brinquedos de todos os tempos.
É gente que sabe que brincar é a actividade mais séria que os miúdos fazem na qual põem tudo o que são e na qual assenta tudo o que virão a ser.
Gente menos competente não sabe ou esquece que assim é. Um dia talvez só mesmo no museu veremos brinquedos.
Obrigado Sr. Carlos Anjos.

DIREITOS VELHOS, DIREITOS NOVOS, UTOPIAS

No âmbito das autárquicas o candidato do PAN propõe o desenvolvimento no Concelho de Cascais de um projecto-piloto de aplicação do Rendimento Básico Incondicional. Esta ideia é uma “bandeira” do PAN que em Fevereiro de 2016 já tinha promovido na Assembleia da Republica um debate internacional “A transição para uma alternativa social inovadora”.
Está também em preparação um congresso sobre a questão envolvendo a Associação Rendimento Básico Incondicional – Portugal, o Centro de Ética, Política e Sociedade, da Universidade do Minho, o ISEG, o Centro de Investigação em Direito Europeu, Económico, Financeiro e Fiscal, ambos da Universidade de Lisboa, o Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar, da Universidade Nova de Lisboa, o PAN e o movimento Unconditional Basic Income Europe.
A ideia central, apesar de algumas diferentes formulações em estudo e em implementação em alguns países, é o estabelecimento de um Rendimento Básico Incondicional, ou seja, qualquer cidadão, independentemente da idade ou situação profissional, teria direito a um rendimento básico.
A medida, sem estranheza, merece acolhimento por alguns especialistas e estando em fase de experimentação em alguns países, Holanda e Finlândia sendo também criticada ou recusada por outras vozes.
Não tenho opinião formada sobre esta matéria mas julgo que os tempos que atravessamos, as mudanças significativas em todas as áreas, as circunstância de vida de milhões de pessoas com assimetrias e níveis de pobreza inaceitáveis no Séc. XXI sugerem, exigem, o resgate das utopias. Recordo que se comemoraram em 2016 os 500 anos da Utopia de Thomas More.
No entanto, já ficaria bem satisfeito se enquanto se estuda e decide sobre o direito ao Rendimento Básico Condicional se cumprisse verdadeiramente a agenda dos "velhos" Direitos do Homem e dos "velhos" Direitos da Criança.
Talvez a questão do Rendimento Básico Incondicional se esvaziasse ou, por outro lado, concluir mesmo que se tratará de uma inevitabilidade civilizacional.

sábado, 26 de agosto de 2017

DO NÚMERO DE PROFESSORES

O processo de colocação e contratação dos professores parece estar a acontecer mais cedo que o habitual o que se saúda. Diminuiu também o número de professores contratados decorrente da vinculação de muitos docentes que têm suprimido necessidades transitórias do sistema durante imensos anos num atropelo a direitos que foi, aliás reconhecido, pela União Europeia.
No entanto, continuam a referir-se insuficiência de docentes e algumas falhas processuais ou na definição de critérios e prioridades.
Um dia, quero acreditar, todo este processo decorrerá sem sobressaltos, com regras claras e em tempo oportuno.
No entanto, sou menos optimista relativamente ao estabelecimento de uma visão partilhada sobre as necessidades de docentes no sistema educativo. A definição desta necessidade é uma matéria complexa e com múltiplas variáveis que deve ser tratada pelos vários intervenientes de forma séria, competente e serena o que não tem acontecido.
Para além das oscilações da demografia que têm sido abordadas de forma habilidosa e não justificam a saída de dezenas de milhares de professores nos últimos anos, entre essas variáveis destacam-se a criação dos insustentáveis mega-agrupamentos, mudanças curriculares destinadas a poupar professores e o aumento de alunos por turma que, não servindo a qualidade da educação, reduziu o número de lugares de docentes e provocou uma longa marcha para fora a milhares de professores.
No entanto, sempre se manteve a existência de milhares de professores contratados, alguns durante décadas, para suprir eternas necessidades transitórias.
A contratação destes docentes foi uma decisão positiva que já se reflecte mas insuficiente nos seus efeitos.
Conhecendo os territórios educativos do nosso país, sempre defendi fazer sentido que os recursos que já estão no sistema, pelo menos esses, o que inclui os contratados com muitos anos de experiência, fossem aproveitados, por exemplo, em trabalho de parceria pedagógica, para possibilitar a existência em escolas mais problemáticas de menos alunos por turma ou ainda que se utilizassem em dispositivos de apoio a alunos em dificuldades. Estas medidas no âmbito de uma autonomia real das escolas seriam possíveis e um contributo importante.
Os estudos e as boas práticas mostram que a presença de dois professores na sala de aula são um excelente contributo para o sucesso na aprendizagem e para a minimização de problemas de comportamento bem como se conhece o efeito do apoio precoce às dificuldades dos alunos. Também se sabe que programas de tutoria desenvolvidos com tempo e recursos adequados são positivos e eficientes para lidar com estas duas questões. A tão incensada flexibilização curricular e diferenciação de práticas seriam bem mais eficazes com dispositivos de parceria regulada.
É ainda verdade que para que muitos alunos como NEE não estejam "entregados" nas escolas mas incluídos com apoios adequados, com níveis de participação, aprendizagem e pertença são necessários recursos.
Sendo exactamente estas questões que mais afectam o nosso sistema educativo, talvez o investimento resultante da presença de dois docentes ou de mais e melhores apoios aos alunos, bem como de programas de tutoria com tempo e recursos, compense os custos posteriores programas “mágicos” de combate ao insucesso, medidas remediativas ou, no fim da linha, a exclusão, com todas as consequências conhecidas.
É só fazer contas. Em educação, apesar da necessidade de contenção e combate ao desperdício não existe despesa, existe investimento.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

UM HOMEM CHAMADO JUSTO

Era uma vez um homem chamado Justo. Era o tipo de pessoa de que a generalidade das pessoas que o conhecem gostam e mais, gostam de conhecer. Na relação que estabelecia com as pessoas, com todas as pessoas, mais conhecidas ou mais estranhas, mais velhas ou mais novas, colegas de trabalho mais próximos ou mais distantes procurava mostrar uma atitude de atenção que o tornava acolhedor.
Desenvolvia o seu trabalho de forma séria, procurando não cometer erros e estar disponível para ajudar quem com ele trabalhava sempre com algum incentivo que deixava as pessoas confiantes. Na função que exercia tinha que por vezes apreciar o trabalho e o comportamento de outros e fazia-o tranquilamente explicando a natureza das avaliações que fazia, que critérios usava e o que esperava que as pessoas fizessem com aquela avaliação.
O Justo era um excelente mediador nos naturais conflitos entre pessoas que convivem diariamente. Escutava diferentes pontos de vista e quase sempre conseguia estabelecer pontes de comunicação promotoras de avanço e ganho nas relações e no trabalho. Durante algum tempo o Justo desempenhou tarefas de chefia na instituição em que trabalhava e também aí mostrou as qualidades que o caracterizavam, decidia o que lhe competia decidir ainda que procurando ouvir o que outros teriam a dizer. Era capaz de identificar o que deveria ser melhorado e conseguia através do incentivo e de alguma persistência levar a mudanças. As pessoas realçavam a qualidade do trabalho que desenvolveu naquela função e como isso foi benéfico para todos.
Quando saiu, os alunos com que se cruzou, os pais que o conheceram e os colegas, professores ou outros, não tinham dúvidas de que o Justo foi um dos melhores professores que tinha passado por aquela escola.
São assim as pessoas justas.

QUANDO A IMPRENSA É NOTÍCIA

De vez em quando a imprensa é ela própria o objecto da notícia. Desta vez noticia-se o risco de encerramento de alguns títulos do Grupo Impresa, designadamente da revista Visão, uma companhia de sempre e na qual tenho colaborado com regularidade. A confirmar-se, o desaparecimento de um órgão de imprensa é sempre um embaraço cívico, em particular com as características da Visão.
A imprensa de qualidade é um dos alicerces da democracia.
É recorrente, não só em Portugal, a discussão da questão da sobrevivência da imprensa e, naturalmente, da sua independência face aos poderes, político e económico, designadamente. Sabemos das tentativas recorrentes de controlo político da imprensa, como também sabemos da eventual agenda implícita dos investimentos dos grupos e poderes económicos na imprensa. São vários os exemplos recentes. Sabemos que a sustentabilidade económica da imprensa é condição necessária mas não suficiente para a sua independência e por isso os tempos são difíceis.
Por outro lado, a evolução do próprio mundo da imprensa, a evolução exponencial do universo do on-line, a conjuntura económica inibidora de gastos das famílias em bens “não essenciais” e, caso particular de Portugal, o baixo nível de hábitos de leitura e consumo da imprensa escrita, produzem dificuldades de sobrevivência de títulos de qualidade, chamados de referência, abrindo caminho à chamada imprensa tablóide que, apesar das oscilações, se mantém relativamente saudável, o que se entende. São também tablóides os tempos.
Como leitor de jornais desde muito novo, é sempre com inquietação e tristeza que penso nestas questões e vou assistindo ao abaixamento das tiragens e, finalmente, ao desaparecimento.
Numa entrevista ao Público há já algum tempo, um especialista, Tom Rosenstiel, afirmava que se o jornalismo, (os jornais), deixar de ser rentável e, como tal, correr o risco de desaparecimento, as democracias poderão sofrer um "cataclismo cívico". Creio que a cidadania de qualidade exige uma imprensa não só voltada para o imediatismo da espuma dos dias e acredito que apesar das mudanças em tecnologia e das incidências do mercado a que os jornalistas e os jornais deverão adaptar-se, os jornais em papel são como os dias, nunca acabam. Se forem jornais, bons jornais, independentemente do suporte têm de resistir.
A imprescindível sobrevivência dos jornais, dos bons jornais, para além da qualidade e competência do seu próprio trabalho, garante-se na escola, nos hábitos de leitura, na educação. Na cidadania.
Aguentem-se Jornais, aguentem-se Visão e Jornal de Letras, fazem falta. 

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

ESTRANHA FORMA DE VIDA

Era uma vez um Rapaz que tinha uma estranha forma de vida. Aquilo que fazia, dizia ou pensava estava muitas vezes em desacordo com o que se desejava para gente da sua idade. Não gostava da maior parte das actividades escolares, apenas se envolvia em actividades desportivas e em algumas coisas ligadas a música. Em consequência já contava com alguns chumbos. Quando estava nas aulas, no intervalo das muitas faltas, o seu comportamento era mau, desafiador da autoridade dos professores e provocador dos colegas, de alguns colegas, sobretudo os que sobressaíam pelas qualidades escolares.
Nos tempos de intervalo na escola não era raro o envolvimento do Rapaz em brigas que quase sempre provocava.
Fora da escola, o Rapaz já não acatava bem as regras de casa, poucas e inconsistentes, e o seu comportamento passava pela provocação e pela habitual animosidade para com a generalidade das pessoas. Como seria de esperar, apenas se dava sem problemas com um grupo pequeno de amigos que liderava e com quem partilhava esta estranha forma de vida.
Quando se falava deste Rapaz, a maior parte das pessoas, na escola e no bairro, referiam-no como um destemido e indomável ser que não conhecia limites.
Ninguém sabia que o Rapaz quando falava de si para si, se sentia, ele próprio, nos limites. Em muitas noites adormecia com um enorme pavor de que no dia seguinte alguém percebesse o medo que sentia da sua estranha forma de vida e de se esquecer de vestir ao sair de casa a pele com que sobrevivia, a pele de um destemido e indomável Rapaz.
Na verdade, e sem que isto sirva para desvalorizar o que deve ser valorizado, existem muitos rapazes e raparigas que vivem estranhas formas de vida e vivem-nas com medo, sem prazer e em sofrimento. Mesmo quando querem parecer de ferro.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

O CADERNO DOS DEVERES

Aproxima-se o final das férias e, consequentemente, o início do ano lectivo. As famílias fazem contas, compra-se como se pode o que é determinado ou desejado pelos miúdos, prepara-se o material para que tudo esteja em condições,
Esta ideia recordou-me que quando era miúdo, lá muito para trás no tempo, havia algo de obrigatório na mala da escola, ainda não tinham inventado as mochilas. Era o caderno dos deveres. Para muitos de nós a escola definia-se pela existência de uma professora e de um caderno dos deveres. Deve ser conversa de velho mas acho piada a este nome, ao contrário do que pensava naquela época. Mas era um tempo de deveres, os da escola e todos os outros. Não era um tempo de direitos, de muitos direitos. E na escola, salvo algumas excepções só se falava mesmo de deveres e por isso um caderno dos deveres.
Depois veio uma festa com alguma turbulência e chegaram os direitos, todos os direitos, acreditava-se, e acabou o caderno dos deveres. A poeira assentou e, provavelmente por alguma embriaguez, parece ter-se instalado de mansinho uma ideia de que entrámos numa época de direitos só de direitos e os deveres passaram a ser olhados como algo a evitar e de que se foge sempre que se pode.
Actualmente, olhamos à nossa volta e parecemos divididos em torno dos direitos, os que têm muitos e os que têm poucos e achamos todos que não temos deveres.
Há quem não tenha o direito ao trabalho, à habitação, à saúde, à educação e há quem tenha direito à impunidade, ao que não é seu, ao não cumprimento da lei, são os que eu chamo de donos do mundo, os que entendem que o dia e as outras pessoas acordam para satisfação dos seus direitos que foram, claro, por si estabelecidos.
Voltando à escola e não sendo eu grande defensor dos manuais, creio que o único manual que se justificaria obrigatório seria um “Caderno dos direitos e dos deveres para construir um mundo decente”.

PARTIU JOHN ABERCROMBIE

Partiu John Abercrombie uma presença importante na banda sonora da minha estrada. Teve um contributo importante para o designado som ECM, uma identidade bem marcada e de que gosto muito. Um trabalho extenso a solo e com inúmeras parcerias. Um exemplo do que nos deixou, aqui com Jan Garbarek e Naná Vasconcelos no imperdível Eventyr.


terça-feira, 22 de agosto de 2017

DOS RAPAZES, DAS RAPARIGAS E DAS DIFERENÇAS QUE NÃO EXISTEM.

Segundo o Público, a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género está a analisar livros de actividades produzidos pela Porto Editora destinados a crianças dos 4 aos 6 anos devido à apresentação de actividades dirigidas especificamente a rapazes e a raparigas em que o grau de dificuldade é mais elementar para as raparigas e a apresentação é também diferente conforme se verifica nos exemplos divulgados.
De facto o material apresentado causa, no mínimo, uma enorme perplexidade mas é mais do que isso.
Em primeiro lugar, importa sublinhar que nada na evidência científica disponível sobre o desenvolvimento das crianças permite suportar a adequação do material apresentado que é grave do ponto de vista da mensagem que sustenta, as raparigas entre os 4 e os 6 anos não são “apenas” diferentes dos rapazes da mesma idade, têm menores capacidades cognitivas.
Em segundo lugar, o pressuposto educativo, que subjacente às actividades. Nos dois exemplos conhecidos, a descoberta de um labirinto, um clássico em matéria de actividades, o que se dirige aos rapazes, mais difícil, tem um rapaz como protagonista e como instrução, “Ajuda o Bruno a encontrar o caminho para o seu barco de piratas, traçando o seu percurso através do labirinto “. O que se dirige às raparigas tem como protagonista uma menina vestida de “princesa” e a instrução é “Ajuda a Francisca a encontrar a sua coroa de princesa, traçando o seu percurso através do labirinto” sendo, como já se referiu bastante mais fácil.
Para além da falta de base científica está patente uma visão educação fortemente marcada pela estereotipia do género e criadora de equívocos e discursos sem outra sustentação que não o preconceito, o esterótipo e a discriminação.
Seria mais fácil pensar que se trata de mais um produto da “silly season” mas é bem mais grave do que isso. Aguardo algum esclarecimento por parte da Porto Editora que no momento em que escrevo não é conhecido.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

Dados provisórios do Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional de 2016, que foram publicados, esta segunda-feira, pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência que o investimento em investigação e desenvolvimento representou em 2016 1.27% do PIB. Pela primeira vez desde 2010 verifica-se um aumento do investimento face ao ano anterior.
Como afirma Carlos Fiolhais a investigação é a “árvore do desenvolvimento” pelo que, apesar de ainda não estarmos no patamar de investimento desejável e necessário, trata-se de uma boa notícia depois do sobressalto e abaixamento dos últimos anos de política científica com Nuno Crato.
É importante a retoma e reforço de um caminho de investimento na investigação como são importantes novos modelos de organização, financiamento e avaliação aliás, já anunciados e cuja concretização nas diferentes dimensões se aguarda como também importa recuperar da desvalorização acentuada que a investigação em ciências sociais e humanidades sofreu.
Está estudada e reconhecida de há muito a associação fortíssima entre o investimento em educação e investigação e o desenvolvimento das comunidades, seja por via directa, qualificação e produção de conhecimento, seja por via indirecta, condições económicas, qualidade de vida e condições de saúde, por exemplo.

BATOTICE NA ESCOLA. SERÁ?

Segundo O JN está em curso uma investigação do Ministério Público a uma escola do norte do país por alteração de notas atribuídas aos alunos. Ao que se lê, um docente da escola terá chumbado alguns alunos na disciplina de Geografia e verificou posteriormente que as notas desses alunos tinham sido subido significativamente O mesmo se terá passado noutra disciplina.
É evidentemente necessário aguardar esclarecimentos sobre este episódio. No entanto, a confirmar-se alguma irregularidade trata-se de um bom exemplo do que não pode acontecer.
O processo de avaliação, apesar da sua complexidade e dificuldade, tem de inspirar confiança e ser precebido como transparente por toda a comunidade educativa.
Quando assim não é, os efeitos são devastadores e minam o trabalho das escolas, a confiança nas direcções, órgãos da escola e nos professores.
Aguardemos.

domingo, 20 de agosto de 2017

DOS PROFESSORES

No Público de dia 18 estava um texto de Pedro Freitas, “Teachers don’t leave our kids alone” que merece reflexão. Parte do pressuposto de que a variável professor e a qualidade do seu trabalho é, de acordo com a evidência, uma variável consistentemente associada ao rendimento dos alunos. Assim sendo e apesar da complexidade na avaliação de professores, defende que seria de considerar a hipótese da criação de incentivos aos “bons” professores. Algumas notas.
Na verdade parece claro que apesar do impacto das variáveis relativas aos alunos e contexto social, económico e cultural, o trabalho na e da escola e dos professores é um factor significativamente explicativo do sucesso dos alunos mais vulneráveis e capaz de contrariar ou minimizar o peso dessas variáveis.
Este trabalho da e na escola envolve dimensões como organização e funcionamento, clima, níveis de colaboração e cooperação, estilo e competência das lideranças, por exemplo e, definitivamente, o trabalho em sala de aula em que surge a diferença produzida pelo professor, pelos professores.
Quando abordo estas questões cito com frequência uma afirmação de 2000 do Council for Exceptional Children, "O factor individual mais contributivo para a qualidade da educação é a existência de um professor qualificado e empenhado".
No entanto, também não podemos esquecer que a existência de professores qualificados e empenhados não depende só de variáveis individuais de cada docente, decorre também de um conjunto de políticas educativas que promovam a qualificação, a motivação e a valorização a diferentes níveis do trabalho dos professores.
A valorização social e profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade. Aliás, uma das características dos sistemas educativos melhor considerados é, justamente, a valorização dos professores.
E nesta matéria também temos muito trabalho para realizar e ideias a discutir

sábado, 19 de agosto de 2017

O REGIME LEGAL DA INCLUSÃO ESCOLAR. ALGUMAS NOTAS

O Público de ontem dedica um espaço significativo ao Regime Legal da Inclusão Escolar, proposta legislativa que substituirá o DL 3/2008 como quadro legal para a resposta educativa à diversidade entre os alunos e que se encontra em discussão pública. Fui solicitado a dar uma pequena colaboração na peça que dada a natureza do trabalho surje com alguma dispersão.
Apesar da limitação deste espaço aproveito a circunstância para deixar algumas notas telegráficas sobre a proposta reafirmando o desejo de que a sua discussão seja ela própria inclusiva, isto é, envolva toda a comunidade educativa e não fundamentalmente, como é mais habitual, os docentes, técnicos e pais mais ligados ao universo de crianças, adolescentes e jovens com necessidades especiais. Este cenário é, aliás, uma das dificuldades para o desenvolvimento mais sólido e partilhado dos princípios e práticas de educação inclusiva.
Assim, em forma de pontos, sem hierarquização e não sendo exaustivo, alguns aspectos globais.
.Em comparação com o 3/2008 a proposta parece bem mais actual do ponto de vista conceptual e inscrita nas orientações e vidência mais divulgadas em diferentes sistemas educativas que sustentem uma visão de educação para todos e capaz de acomodar a diversidade dos alunos.
. Neste sentido parece positivo a defesa de uma abordagem multinível.
. Registo o reforço da ideia de diversidade dos alunos e não apenas do universo dos “alunos com necessidades educativas especiais”.
. Parece-me importante o desaparecimento do “conceito” de elegibilidade, “o pecado original” do 3/2008 e que sustentava o recurso à CIF. A questão nunca foi a CIF em si mesma, mas sim querer estabelecer em educação algo de impossível e indefensável, “a elegibilidade”, quando a própria CIF é uma ferramenta de classificação e não de avaliação educativa.
. Minimiza a “categorização”. Definir a intervenção através da categorização é sempre arriscado na medida em que crianças da mesma “categoria” serão sempre diferentes e exigem uma avaliação adequada e competente. Reforçar este entendimento e mais ajustado que entender que definida a “categoria” de problemas já “saberemos” qual a resposta necessária.
. Reforço de princípios de equidade, participação, pertença e diferenciação. Parece presente a ideia de minimizar o acantonamento de alunos em espaços físicos ou curriculares “categorizados”. A definição dos “Centros de apoio à aprendizagem” (a que voltaremos) não elimina a possibilidade de ter respostas educativas ou tempos de trabalho fora da sala de aula quando necessários, por vezes são, dadas as características dos alunos e da avaliação de necessidades. O quadro actual até permitia algo de extraordinário do ponto de vista conceptual “a inclusão ao contrário”, bem como experiências que de inclusão têm nada apesar de também acomodar boas práticas, não esqueço.
No entanto, esta apreciação global positiva do ponto de vista conceptual e de orientações definidas não invalida, antes pelo contrário, a identificação de alguns aspectos que suscitam dúvidas.
. Pensando em termos de operacionalização na realidade que temos coloca-se de imediato a questão dos recursos, docentes e técnicos e auxiliares. Não existem em número adequado e quando existem nem sempre estão bem distribuídos.
. A questão da formação relativamente a alguma redefinição da intervenção designadamente no que respeita à avaliação, o aspecto mais crítico para intervir correctamente em educação.
. A “cultura” existente em algumas escolas no que respeita às actuais “unidades” que temo ver replicada mesmo com o modelo agora em discussão.
. Está omisso um aspecto central, a ausência da referência a dispositivos de regulação, a inspecção não tem este papel). Neste aspecto o sistema educativo é verdadeiramente inclusivo, acomoda a excelência e mediocridade, por vezes na mesma escola/agrupamento sem um sobressalto.
. Como já referi a existência dos “Centros de Apoio à Aprendizagem” parece-me uma boa hipótese de trabalho. No entanto, qual o enquadramento, operacionalização, orientações, recursos e regulação do seu funcionamento num quadro de verdadeira autonomia das escolas/agrupamentos?
. Que orientações para a construção da rede de escolas de referência de forma a impedir as deslocações diárias demasiado extensas de alguns alunos. Será também que todos os alunos com um determinado tipo de problemáticas precisam de frequentar uma “escola de referência? Não creio, volto a colocar o problema dos riscos da categorização.
. A abordagem multinível em matéria de organização curricular refere, “acomodações curriculares“, “adaptações curriculares não significativas” e “adaptações curriculares significativas”, levanta do meu ponto de vista problemas significativos de operacionalização. Sendo a organização e conteúdos curriculares uma questão crítica em matéria de educação inclusiva é essencial que sejam claras as orientações e a regulação dentro de um quadro de real autonomia. Conhecemos todos alunos que que desempenham actividades e têm objectivos curriculares definidos que são eles próprios um factor de debilização e exclusão.
. Dada a extensão apenas uma nota final relativa aos Centros de Recursos para a Inclusão. A referência à função e modelo de trabalho comas escolas/agrupamentos é claramente insuficiente. Mais uma vez, existem excelentes experiências e outras de verdadeira exclusão, em que ficamos, qual o modelo? Com que orientações e distribuição de responsabilidades? Que regulação do que é realizado?
Existem, naturalmente, mais alguns aspectos que merecerão discussão em textos futuros.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

RECORRE, PÁ. A NOTA SOBE QUASE SEMPRE

A propósito do final da 1.ª fase de candidatura ao ensino superior alguma imprensa refere uma matéria que em todas épocas de exame me causa alguma perplexidade até pela forma discreta como é acolhida. Segundo dados do Júri Nacional de Exames, em 73% dos pedidos de reapreciação dos exames finais do Secundário verificou-se subida de nota, em 16% manteve-se e em 10% desceu.
Foram requeridas 7142 reapreciações, 2,1% das 332.340 provas realizadas na 1.ª fase dos exames. No exame de Geometria Descritiva 91% das reapreciações melhoraram a nota sendo que História B, Alemão e Francês registaram 90% de subidas.
Em Português a nota subiu em 72% dos casos e a Matemática a melhoria verificou-se em 76%.
Sabe-se que a avaliação escolar contém uma incontornável dimensão de subjectividade e complexidade, por isso, é necessário um trabalho muito consistente ao nível da qualidade dos exames, da solidez, clareza e coerência dos critérios de avaliação e, naturalmente, da competência dos avaliadores. Estes aspectos foram, aliás, objecto de muitas referências na imprensa durante a época de exames.
Como explicar tal número de recursos acolhidos, na maioria subindo a classificação? Como confiar na avaliação se muitos professores aconselham os alunos a recorrer pois a probabilidade de verem a nota alterada é grande?
Uma especialista em avaliação das aprendizagens, a professora Leonor Santos da Universidade de Lisboa, Leonor Santos, especialista em avaliação das aprendizagens, afirma em entrevista ao Público que aqui citei na altura devido ao seu interesse, a existência de estudos que confirmam a tendência de a subida de notas nos processos de reapreciação. Entende que tal situação decorre mais da “atitude de base” do classificador que de erros cometidos. Afirma, “Há investigação que já demonstrou que a preocupação dos avaliadores que estão a classificar pela primeira vez é a de manter os mesmos critérios para todas as provas. Mas quando está a fazer uma revisão de prova, a sua atitude é completamente diferente: tenta aproveitar tudo o que for possível”.
Não sou especialistas nestas matérias mas julgo que deveriam ser, tanto quanto possível, ponderadas e consideradas para que os exames e a sua classificação mereçam a confiança de alunos e famílias.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

CHOQUE E HORROR, AGORA EM BARCELONA

Desta vez em Barcelona.
Como já escrevi e não posso deixar de repetir, vão faltando as palavras para falar do horror e da barbaridade que no mar e em terra vai acontecendo cada vez mais perto de nós, que, provavelmente, acreditávamos estar a salvo de tamanhas tragédias.
A merda de lideranças actuais da generalidade dos países que põem e dispõem no xadrez do poder mundial e de tantos outros subservientes e submissos que, em muitos casos, de pessoas não sabe nem quer saber, permite, sem um sobressalto e com palavras que de inócuas são um insulto, que se assista à barbaridade que as imagens e os relatos mostram e o muito que se imagina mas não se vê.
Apesar da complexidade é evidente para toda a gente com um pouco de senso que nada disto se resolve com muros ou vedações, com bombardeamentos cegos, com milhares de mortos e de refugiados, com a manipulação de emoções e interesses de circunstância ou combatendo alguns e depois apoiar esses alguns ao sabor dos movimentos da luta pelo poder
Crescem muros, chovem bombas, a barbaridade estende-se de maneiras que não suspeitávamos, o horror é imenso e, por vezes, nem a retórica da condenação é convincente e muitos menos, evidentemente, eficaz.
A questão é séria, os ventos sempre semeiam tempestades e as tempestades num mundo global não ficam confinadas nos epicentros. E são tempestades que por mais policiado que um estado seja não se conseguem evitar.
Não existe terror mau e terror bom. Não existe horror mau e horror bom. Não existe terrorismo bom e terrorismo mau.
Como é possível que tal horror aconteça e tanta gente com responsabilidades assobie para o ar e se fique pelas palavras de circunstância ou mesmo de relativização.
Estou a lembrar-me de Rafael Alberti e o seu "Nocturno".
(...)
Las palabras entonces no sirven, son palabras...
Siento esta noche heridas de muerte las palabras.
(…)
Não, não é para estragar o dia. É só porque é neste mundo que vivemos, vivem os nossos filhos e viverão os nossos netos.

DO SONO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

No Público encontra-se uma entrevista com a Professora Teresa Paiva, uma referência nos estudos e intervenção sobre o sono, que merece leitura e reflexão.
A qualidade e higiene do sono são, de facto, matérias de grande importância no bem-estar e qualidade de vida das pessoas e em todas as idades. No entanto nem sempre têm a atenção devida.
É conhecido o aumento exponencial do consumo de produtos para “ajudar” a dormir e ao facto de muitos trabalhos evidenciarem a insuficiência do tempo de sono presente no estilo de vida de muitos de nós. Esta situação é particularmente importante nos mais novos e muitas vezes aqui a tenho referido. De novo algumas notas.
Recordo um estudo de 2016 da Universidade do Minho que sugere que cerca de 72% de mais de quinhentas crianças e adolescentes inquiridos, dos 9 aos 17, dormem menos do que seria recomendável para as suas idades. Aliás, estudos liderados pela Professora Teresa Paiva mostram isso mesmo.
Para além das questões ligadas aos estilos de vida e às rotinas, uma das causas apontadas é a presença de aparelhos como computadores, tablets ou smartphones no quarto.
O período de férias que ainda decorre leva, e é bom que assim seja, a alteração nas rotinas da vida dos mais novos. No entanto, estando a aproximar-se mais um ano lectivo talvez seja de considerar estas questões
Em 2013, um estudo da University College of London mostrava o impacto negativo que a ausência de rotinas como deitar à mesma hora podem ter no bem-estar e saúde das crianças afectando, por exemplo, o processamento da aprendizagem.
Um estudo recente realizado nos EUA acompanhando durante seis anos 11 000 crianças encontrou fortes indícios de relação entre perturbações do sono e o desenvolvimento de problemas de natureza diferenciada no comportamento e funcionamento das crianças.
Esta questão, os padrões e hábitos de sono das crianças e dos adolescentes, é algo de importante que nem sempre parece devidamente considerada.
A falta de qualidade do sono e do tempo necessário acaba, naturalmente, por comprometer a qualidade de vida das crianças e adolescentes, incluindo o rendimento e comportamento escolar. Todos nos cruzamos frequentemente nos Centros Comerciais, por exemplo, com crianças, mais pequenas ou maiores, a horas a que deveriam estar na cama e que, penosa mas excitadamente, deambulam atreladas aos pais.
Algumas evidência sugere que parte das alterações verificadas nos padrões e hábito relativos ao sono remete para questões ligadas a stresse familiar e sublinha o aumento das queixas relativas a sonolência e alterações comportamentais durante o dia.
As situações de stresse familiar serão importantes mas parece-me necessário não esquecer alguns aspectos relacionados com os estilos de vida, com as rotinas ou com a utilização nem sempre regulada das novas tecnologias. Durante o dia, as crianças e adolescentes passam boa parte do seu tempo saltitando de actividade para actividade, passam tempos infindos na escola e, muitos deles, são pressionados para resultados de excelência. Muitos trabalhos mostram também que boa parte das crianças e adolescentes terão computador ou televisor no quarto, além do telemóvel e smartphones.
Acontece assim que durante o período que seria dedicado ao sono, sem regulação familiar muitas crianças e adolescentes continuam diante de um ecrã. Como é óbvio, este comportamento não pode deixar de implicar consequências nos comportamentos durante o dia, sonolência e distracção, ansiedade e, naturalmente, o risco de falta de rendimento escolar num quadro geral de pior qualidade de vida.
Creio que, com alguma frequência, alguns comportamentos e dificuldades escolares dos miúdos, sobretudo nos mais novos que por vezes, sublinho por vezes, são de uma forma aligeirada remetidos para problemas como hiperactividade ou défice de atenção, podem estar associados aos seus estilos de vida ou aos modelos educativos, universo onde se incluem os hábitos e padrões de sono como, aliás, alguns estudos e a experiência de muitos profissionais parecem sugerir.
Considerando as implicações sérias na vida diária importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada aos pais para estas questões e que apesar a utilização imprescindível e útil destes dispositivos seja regulada e protectora da qualidade de vida das crianças e adolescentes
A experiência mostra-me que muitos pais desejam e mostram necessidade de alguma ajuda ou orientação nestas matérias.

SÓ FALTAVA TREMER A TERRA

A terra tremeu na zona centro do País. Recordei-me da minha Avó Leonor, mulher sábia, que nos alertava sempre para que deveríamos ouvir e estar atentos à natureza. Ela também se zanga.
Os tempos vão complicados. A vida de muitas pessoas continua tremida, a esperança no futuro ainda treme para muitos jovens. É impossível ouvir alguns discursos e assistir a algumas tragédias sem um estremecimento de inquietação.
Só faltava tremer a terra. Felizmente apenas assustou as pessoas.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

DA SAÚDE MENTAL

Vai entrar em discussão pública a proposta para extensão do Plano Nacional de Saúde Mental para 2020. O programa estava definido para o período de 2007 a 2016 e a extensão terá com aspecto relevante a finalização da transição das respostas em hospital psiquiátrico para rede de serviços locais de saúde mental em processo de definição e criação de serviços de internamento em hospitais gerais.
A este propósito recordo que em Fevereiro deste ano foi divulgado que através de protocolos com 17 instituições vão ser criadas 366 vagas para cuidados continuados de saúde mental.
Parece assim esquecida de vez a opção pelo recurso a equipas comunitárias comprovadamente mais eficazes e menos onerosas. Esperemos pelo conhecimento do documento em discussão.
Segundo o Relatório do programa da União Europeia "Joint Action on Mental Health and Well-being" divulgado em 2015, Portugal está muito longe do desejável no que respeita à prestação de cuidados no domicílio e serviços na comunidade a pessoas com doença mental. Estima-se que menos de 20% dos doentes tenha acesso a este tipo de cuidados.
A ausência de respostas adequadas leva a um recurso excessivo à prescrição de psicofármacos mesmo em situações não justificadas como tem sido recorrentemente demonstrado.
Também de 2015, o estudo Trajectórias pelos Cuidados de Saúde Mental em Portugal, promovido pela Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental defendia que o encerramento, positivo entenda-se, dos hospitais psiquiátricos não foi acompanhado da criação de serviços na comunidade pelo que a desinstitucionalização falhou e “agravou os problemas de muitos doentes”. Afirmava-se no Relatório que a Rede de Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental não se concretizou e escasseiam os recursos.
Entretanto, o Governo anunciou o arranque deste Projecto. No entanto e com alguma surpresa o programa assenta fundamentalmente na construção de unidades e aumento do número de camas na tutela de Misericórdias e instituições religiosas, algumas sem experiência. Ficam de fora instituições com experiência nesta área e capacidade para estruturar resposta de proximidade. Alguns especialistas definiram a opção como a promoção de mais uma área de negócio. Sem estranheza.
A opção foi e é criticada pelo director do Programa Nacional para a Saúde Mental que entende por mais ajustado a aposta em equipas comunitárias e apenas um número reduzido de camas para situações mais críticas de adultos ou crianças para as quais faltam de facto, camas levando ao seu inaceitável internamento em serviços para adultos.
Na verdade, as orientações actuais e matéria de saúde mental, quer do ponto de vista científico, quer do ponto de vista dos custos, determinam que a qualidade e eficácia deste tipo de apoios, deve, tanto quanto possível, assentar em estratégias de proximidade, aproximando, assim, o serviço clínico da comunidade e da vida quotidiana das pessoas.
Os modelos defendidos pela comunidade científica actual, a defesa dos direitos humanos e da qualidade de vida, tornaram insustentável a manutenção das grandes instituições psiquiátricas que encerravam muitas câmaras de horrores e casos de isolamento e privação. Ainda me lembro do incómodo causado por visitas realizadas no início da minha formação ao Hospital Júlio de Matos. Este universo é bem retratado no mítico “Jaime” de António Reis e Margarida Cordeiro.
No entanto, este movimento de retirada das pessoas com doença mental das grandes instituições não está a ser devidamente suportado pela criação de unidades locais que providenciem apoio terapêutico, social e funcional tão perto quanto possível das comunidades de pertença dos doentes e com o mínimo recurso ao internamento.
Tal opção, parece claro, cria sérios obstáculos aos processos de reabilitação e inserção comunitária acentuando ou mantendo os fenómenos de guetização das pessoas com doença mental e respectivas famílias.
Não estranho, os doentes mentais são os mais desprotegidos dos doentes, pior, só os doentes mentais idosos. Os custos familiares e sociais da guetização são enormes e as consequências são também um indicador de desenvolvimento das comunidades.

PÉS DE BARRO ENTERRADOS NO LODO DO PÂNTANO

O habitat pantanoso continua a incubar e fazer eclodir episódios de corrupção, desculpem, alegada corrupção e delinquência económica. Mais um grupo de figuras graúdas do aparelhismo político e do tecido económico está acusado de diversos crimes, aqueles designados por “colarinho branco”.
A roda livre de impunidade e incumprimento dos mais elementares princípios éticos quando não da lei, produziu nas últimas décadas uma família alargada que, à sombra dos aparelhos partidários e através de percursos políticos, se movimentam num tráfego intenso entre cargos, entidades e empresas públicas e entidades privadas, promovendo frequentemente negócios que nos insultam e empobrecem.
Esta família alargada envolve gente de vários quadrantes sociais e políticos com uma característica comum, os negócios, alguns obscuros, de natureza multifacetada e de escala variável, desde o jeitinho para o emprego para o amigo até aos negócios de muitos milhões.
Acontece ainda e isto tem tido efeitos devastadores que muitos dos negócios que esta família vai realizando envolve com frequência dinheiros públicos e com pesados encargos para os contribuintes.
Esta família conta ainda com a cooperação de um sistema de justiça talhado à sua medida pelo que raramente se assiste a alguma consequência significativa decorrente dos negócios da família.
Curiosamente mas sem surpresa, todos os membros desta família, quando questionados sobre os seus negócios ou envolvimento em algo, afirmam, invariavelmente que tudo é feito tudo dentro da lei, nada de incorrecto e, portanto, estão sempre de consciência tranquila.
Veremos o que dará mais este episódio. Como de costume e provavelmente, uns incómodos com a imprensa e com as idas a tribunal e depois os escritórios de advogados, sempre os mesmos, assegurarão os expedientes suficientes para que nada aconteça.
Para a próxima terão cuidados redobrados e coisa compõe-se.
Alguém poderia explicar a esta gente que, primeiro, não somos parvos e, segundo, o que quer dizer consciência.
Esta é a pantanosa pátria nossa amada.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

SER PEQUENO

Dado o inexorável movimento dos dias cumpro hoje mais um marco de uma estrada que já vai ficando longa. Na minha terra era costume, creio que ainda é muito frequente em Portugal, referir que quando se celebra um aniversário, se é "pequeno". Assim sendo, hoje sou "pequeno", coisa que não é nada fácil imaginar e muito menos conseguir.
Embalado por essa ideia lembrei-me de quando era mesmo pequeno, tentação que parece inevitável cada vez que ficamos mais velhos.
Lembrei-me de como brincava, ao que brincava e com quem brincava, quase sempre na rua.
Depois lembrei-me de como brincava com o meu filho, quando ele era pequeno, grandes viagens em grandes brincadeiras.
Agora brinco com os meus netos, são eles os pequenos. Muito a gente se diverte. E havemos de nos divertir ainda mais a brincar. Palavra de avô.
A este propósito e com já vos tenho dito e, certamente, alguns estranharão, acho que por estes dias os miúdos brincam pouco.
Eu sei que os tempos são diferentes e os estilos de vida mudaram significativamente. No entanto, não me parece que sejam razões suficientes. A questão é, creio, de outra natureza.
As brincadeiras já não brincadeiras, passaram a chamar-se actividades. E os miúdos têm muito pouco tempo para brincar, é quase todo destinado a actividades, muitas actividades, que, dizem, são fantásticas, fazem bem a tudo e mais alguma coisa, promovem competências extraordinárias e é preciso ser excelente.
Deixem os miúdos brincar, faz-lhes bem, é mesmo a coisa mais séria que fazem e, como sabem, é importante lidar desde pequeno com coisas sérias.
Hoje não vai dar, é tempo de férias que também nos separam, mas se fosse brincar os meus netos ainda nos divertíamos mais. Hoje sou pequeno ainda melhor nos entenderíamos.
Fica para depois.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

DOS AUXILIARES DE EDUCAÇÃO

O ME anunciou hoje a contratação de 250 assistentes operacionais para as escolas e que está em fase de conclusão a revisão da portaria que define o rácio de alunos por assistente operacional.
Espera-se que conforme foi afirmado numa audição em Maio na AR, a alteração da portaria não seja apenas assente no número de alunos e considere, por exemplo, a tipologia das escolas ou seja, o número de pavilhões, a existência de cantinas, bares e bibliotecas e a extensão dos recreios ou a frequência de alunos com necessidades especiais.
A confirmar-se trata-se de uma medida positiva e necessária mas insuficiente.
Já aqui tenho escrito sobre as condições em que muitos destes assistentes operacionais chegam às escolas mas estas notas são para enfatizar os riscos da insuficiência do seu número.
Na verdade, os auxiliares de educação, insisto na designação, desempenham e devem desempenhar um importante papel educativo para além das funções de outra natureza que também assumem e que exige a adequação do seu efectivo, formação e reconhecimento. No caso mais particular de alunos com necessidades educativas especiais, em algumas situações os assistentes operacionais serão mesmo uma figura central no seu bem-estar educativo, ou seja, são mesmo auxiliares de acção educativa.
A excessiva concentração de alunos em centros educativos ou escolas de maiores dimensões não tem sido acompanhada pelo ajustamento adequado do número de auxiliares de educação. Aliás, é justamente, também por isto, poupança nos recursos humanos, que a reorganização da rede, ainda que necessária, tem sido feita com sobressaltos e com a criação de problemas.
Os auxiliares educativos cumprem por várias razões um papel fundamental nas comunidades educativas que nem sempre é valorizado.
Com frequência são elementos da comunidade próxima das escolas o que lhes permite o desempenho informal de mediação entre famílias e escola, têm uma informação útil nos processos educativos e uma proximidade com os alunos que pode ser capitalizada importando que a sua acção seja orientada, recebam formação e orientação e que se sintam úteis, valorizados e respeitados.
Os estudos mostram também que é nos recreios e noutros espaços fora da sala de aula que se regista um número muito significativo de episódios de bullying e de outros comportamentos socialmente desadequados. Neste contexto, a existência de recursos suficientes para que a supervisão e vigilância destes espaços seja presente e eficaz. Recordo que com muita frequência temos a coexistir nos mesmos espaços educativos alunos com idades bem diferentes o que pode constituir um factor de risco que a proximidade de auxiliares de educação minimizará.
Considerando tudo isto parece essencial e um contributo para a qualidade dos processos educativos a presença em número suficiente de auxiliares de educação que se mantenham nas escolas com estabilidade e que sejam orientados e valorizados na sua importante acção educativa.

A DANÇA DAS CADEIRAS

As notícias diárias sobre as eleições autárquicas recordam-me com demasiada frequência do nosso jogo de infância a dança das cadeiras. Vamos andando pela sala ouvindo música e quando ela se cala cada um tenta encontrar uma cadeira, o que não conseguir sai do jogo e retira-se uma cadeira prosseguindo até encontrar o vencedor.
No entanto, esta versão grotesca para adultos tem outras regras, vale tudo por assim dizer, atropelam-se para se colocarem melhor posicionados à partida, roubam as cadeiras, mudam de lugar o jogo conforme a conveniência, insultam-se, empurram-se e ameaçam-se pela posse da cadeira, apelam à ajuda dos amigos e dos padrinhos para conseguir a cadeira, etc.
Passado algum tempo, quatro anos, tudo recomeça com os mesmos jogadores, os mesmos comportamentos.
É assim boa parte da política no Portugal dos Pequeninos.

domingo, 13 de agosto de 2017

O ENSINO DOMÉSTICO - a minha mãe é a minha professora e o meu mundo

O JN de ontem trazia um trabalho sobre o ensino doméstico, encarado como um percurso educativo alternativo à frequência da escola.
Esta opção por parte de algumas famílias radica numa recusa ou reserva das famílias relativamente aos conteúdos curriculares centralizados e massificados gerados pela escolaridade obrigatória e universal, entendimento que também se associa por vezes a convicções religiosas e também a uma apreciação negativa dos ambientes escolares e dos seus eventuais impactos nas crianças e adolescentes.
Não discuto a legitimidade das opções familiares embora se saiba que em alguns países não é permitida, sei também das experiências positivas que alguém terá sempre para contar mas em termos de princípio tenho algumas reservas sobre este processo e algumas das suas implicações. Uma análise profunda não cabe neste espaço embora me pareça que, por um lado, é uma opção a que poucas famílias podem aceder por razões óbvias e por outro, os muitos problemas e de diferente natureza que a escolarização coloca se devem minimizar, melhorando, para todos, insisto para todos, a qualidade dos processos.
No entanto e de forma breve, uma referência não exaustiva a questões que se podem colocar, a densidade e natureza da rede social experienciada pelas crianças e adolescentes, a diversidade de actividades, o desempenho e contacto com diferentes papéis e diferentes contextos, a autonomia, os “limites” na acção didáctica (não educativa) dos pais que leva à necessidade de “orientadores” também conhecidos por “explicadores”.
Acresce ainda que se pode discutir o tempo para esta opção. Na peça do JN a Professora Inês, Peceguina, do Movimento Educação Livre fala na possibilidade de que o ingresso na escola possa vir a ser apenas no ensino superior. E porque não continuar também o ensino doméstico durante a formação superior? 
O que me faz reflectir, e inquieta, é o que parece significar este tipo de opções. Senão vejam.
Não se desloque às livrarias - encomende via net;
Não se desloque para comprar discos – encomende via net;
Não vá ao cinema – compre o DVD ou veja nos canais disponíveis em casa;
Não vá a concertos – veja o DVD, o YouTube e todas as outras opções.
Compre casa num condomínio fechado com espaço de convívio!!, e campo de jogos, piscina, etc.
Não se desloque às compras – encomende via net;
Não vá ao banco – tem o homebanking;
Não saia para trabalhar – está aí o tele-trabalho;
Não saia para estudar – tem e-learning:
Não saia para conversa e convívio – tem a conversa na net, aliás com várias opções;
Não saia para … - a televisão traz.
Se a gente não sai… que caminho é o nosso? Vamos juntos ou vamos fechados?

sábado, 12 de agosto de 2017

GOSTEI DE LER, "OS COMENTÁRIOS DOS LEITORES"

Gostei de ler o texto de ontem do António Guerreiro no Público, “Os comentários dos leitores”. Produz uma reflexão interessante e pertinente sobre a forma como são usadas por boa parte das pessoas as caixas de comentários da imprensa online.
Já aqui tenho referido essa questão sobretudo a propósito de matérias ou notícias respeitantes à educação.
Julgo que seria interessante um estudo com algum rigor que procedesse à análise de conteúdo dos comentários. Apesar da dificuldade de identificar os autores, seria um forte contributo para perceber a forma como o universo da educação é percebida pela parte da comunidade que lê a imprensa e comenta o que lê.
De uma forma geral é algo de inquietante. Muitos comentários, favoráveis ou desfavoráveis, estão cheios de agressividade, insultos, ignorância arrogante e preconceito que assustam. Pensar que esta gente que assim expressa opiniões sobre educação e professores pode ser responsável pela educação de filhos ou netos é assustador e ajuda a perceber, também, a forma como alguns dos mais novos percepcionam os seus professores e a escola.
Como sublinha António Guerreiro, apesar das excepções, esta utilização das caixas de comentários mina o sentido da sua existência, a partilha e discussão de ideias pela comunidade de leitores. É também algo que se passa nas redes sociais apesar de diferenças óbvias entre os dois suportes. Algumas publicações estão mesmo a eliminar a existência de comentários.
É pena mas compreende-se.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

E-SONHO DE UM DIA DE VERÃO

O sonho será porventura a actividade mais democratizada da espécie humana. Parece acessível a todos os estatutos e condições. É certo que já me cruzei com pessoas que me impressionaram pela atitude de nada esperar da espécie de vida que têm e por não parecerem sequer capazes de comprar um sonho. Apesar da eventual discordância de alguns psicólogos, o sonho tem ainda a vantagem de permitir o acesso a tudo, não tem aparentemente limites, é completamente aberto, cada um pode sonhar o seu sonho, seja ele qual for.
Não é muito frequente recordar-me dos meus sonhos, dos bons ou dos maus. É bastante mais usual sonhar quando estou acordado, bem acordado. E nestas ocasiões quase só me acontecem sonhos bons e sem limites.
Como este que de acordo com os tempos que correm é um e-sonho de um dia de Verão.
Um dia, os miúdos terão pela frente uma banda larga onde caiba o seu projecto de vida.
Um dia, os miúdos estarão ligados a redes sociais que os protejam.
Um dia, os miúdos poderão navegar sem problemas a caminho do futuro.
Um dia, os miúdos não estarão, quase que exclusivamente, acompanhados por um ecrã.
Um dia, os miúdos apenas receberão e enviarão sms com boas notícias.
Um dia, conseguiremos que a felicidade não seja, para muitos miúdos, apenas realidade virtual.
Um dia, os miúdos poderão realizar downloads e uploads de afecto.
Um dia, haverá um GPS capaz de evitar que algum miúdo se perca.
Um dia, o mundo terá um ambiente mais amigável para os miúdos.
Um dia, os miúdos terão um antivírus eficaz no combate ao conhecido vírus “maus-tratos”.
Um dia, não teremos conflitos de software, os programas de apoio aos miúdos serão compatíveis com as suas necessidades.
Um dia, o bem-estar será portátil e acessível, qualquer miúdo o pode usar.
Um dia, os miúdos poderão chumbar pais ou professores que não correspondam ao que deles se espera.
Um dia, não precisaremos de bater sempre na mesma tecla, “Lembrem-se dos miúdos”.
Um dia ...

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

INDEPENDÊNCIA E AUTONOMIA, UMA QUESTÃO DE DIREITOS

O Conselho de Ministros de hoje aprovou um conjunto de medidas de apoio às pessoas com deficiência.
De entre várias importantes decisões, parece-me de sublinhar, finalmente, a definição de um Modelo de Apoio à Vida Independente que possibilita que as pessoas com deficiência dispor de assistente pessoal que permite maior grau de autonomia e funcionalidade.
A lei confere às pessoas a participação na escolha dos cuidadores mas impede que sejam da sua família. Embora possa compreender as razões deste limite julgo que seria desejável assumir na legislação um princípio de confiança. Sabemos que em muitas circunstâncias os familiares das pessoas com deficiência são já seus cuidadores em termos informais e sem contar com qualquer tipo de apoio.
A operacionalização do modelo assenta numa rede de instituições não-governamentais com estatuto de IPSS, CAVI - Centros de Apoio à Vida Independente, que funcionarão com um mínimo 10 e um máximo de 50 pessoas apoiadas e com uma equipa técnica de apoio. Deverão integrar nos seus órgãos e equipas pessoas com deficiência. Será uma questão de cultura, promove-se a vida independente e criam-se instituições que a tutelem e apoiem. Aliás, a construção do previsto Plano Individual de Assistência é definido com cada pessoa e com o acordo do CAVI.
Como é evidente, este discurso não pretende tornar dispensáveis as instituições, são necessárias particularmente em situações de crise ou de problemáticas mais severas, mas, simplesmente, defender que as pessoas são, por princípio, capazes de tomar conta de si próprias, incluindo a gestão dos apoios que a sua situação possa justificar.
No fundo, é, simplesmente, uma questão de direitos individuais e sociais.
Esperemos que o caminho aberto por este Modelo de Apoio à Vida Independente não se se estreite nem se deturpe e se evolua no sentido certo, o respeito pela autonomia e direitos individuais e sociais das pessoas com deficiência, designadamente, o direito à independência e autodeterminação.


"AS ESCOLAS VÃO ESCOLHER COMO ENSINAR OS ALUNOS". É MESMO?

O Público dedica de novo algum espaço ao Projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular. Afirma em título que “Mais de 20% das escolas vão poder escolher como ensinar os alunos”. No mesmo sentido, o Observador titula “230 escolas vão poder escolher como querem ensinar os alunos” e o DN afirma “236 escolas vão mudar a maneira de ensinar já em Setembro”.
Será?
Antes de mais reafirmar a necessidade de mudanças em matéria de currículo, de autonomia, de recursos e organização das escolas, etc., dispensando-me de retomar as razões para este entendimento. Também reafirmar a ideia de que a mudança deve ser testada e avaliada antes de generalizada. A forma como este processo está a decorrer não parece suficientemente tranquilizadora
Por outro lado, e como também já disse, não simpatizo com a recorrente referência à necessidade de inovação em educação ou de uma "nova forma de ensinar" e, muito menos, à "revolução" que virá.
O Projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular, embora não se conheça a lista de escolas, envolverá, segundo o Público, algumas turmas de 236 escolas, 171 públicas, 61 privadas e 4 portuguesas no estrangeiro, As turmas escolhidas serão do 1º, 5º, 7º, 10º ano, e de 1º ano de formação de cursos organizados em ciclos de formação.
O Projecto tem, do meu ponto de vista, alguns aspectos que me parecem ir no caminho que entendo como mais ajustado para defender a qualidade dos processos educativos e para todas os alunos mas ainda haverá muita estrada para andar. Este caminho deverá ter com eixos estruturantes, entre outros, autonomia das escolas e dos professores que sustentem diferenciação em processos e metodologias, ajustamentos nos conteúdos e organização dos currículos e, porventura, dos ciclos de ensino, recursos humanos e dispositivos de apoio competentes, adequados e oportunos, regulação do sistema. Ora o Projecto, embora, como disse tenha aspectos positivos está longe de, tal como está desenhado, poder ser a mudança, será, espero, um passo, apenas um passo.
Neste sentido e sabendo que se mantém toda a esttrutura curricular em vigor entender que as escolas envolvidas vão “poder escolher como ensinam os alunos” é manifestamente exagerado e levanta até uma outra questão.
O que vai acontecer em Setembro a todas as outras turmas dos 713 agrupamentos e 95 escolas não agrupadas, além sistema privado e de outras instituições? Os professores e direcções ficarão condenados ao sofrimento por falta de um Projecto que lhes permita ter alguma decisão sobre o que acontece na sala de aula?
Esta espécie de “pensamento mágico “ face ao Projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular entendendo que a autonomia e a diferenciação chegam em Setembro a alguns eleitos justifica alerta, a realidade não é a projecção dos nossos desejos, é mais complexa que isso.
Não podemos alimentar a ideia de um sistema dividido em TEIP, Territórios Educativos de Intervenção do Projecto e Territórios Educativos de Intervenção Possível. Nos primeiros escolhe-se como ensinar os alunos, nos outros ... aturam-se os alunos com o arsenal pedagógico e didáctico de sempre com um currículo não flexibilizado para algumas turmas. Aliás, como é sabido em muitíssimas escolas acontecem diariamente excelentes trabalhos, com muito bons resultados que não devia ser esuecidos, antespelo contrário. Daí o meu cansaço face à narrativa da "inovação".
Uma nota final para reafirmar o desejo de que tudo corra o melhor possível. Já vai sendo tempo e já merecemos, sobretudo alunos e professores.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

INCLUSÃO E ENSINO SUPERIOR

A produção de “Recomendações” parece estar em alta na Assembleia da República. A “recomendação” tem um preço político mais baixo que legislar e permite sempre aliviar consciências. No entanto, registem-se as recomendações.
Foi hoje publicada em DR a “Resolução da Assembleia da República n.º 195/2017” que “Recomenda ao Governo que apoie os estudantes com necessidades educativas especiais”. Muito bem. E agora?
De facto, a presença e as questões levantadas pela frequência de ensino superior por alunos com necessidades especiais não têm merecido a visibilidade e reflexão que justificam, a sua ”voz” é baixa.
A percentagem de alunos com necessidades especiais relativamente aos alunos que frequentavam o ensino superior em 2013/2014 era de 0.36% o que talvez ajude a perceber a falta de “voz” para os seus problemas. No ano lectivo que terminou foram preenchidas apenas 14% das vagas do contingente especial para alunos com deficiência. Foi hoje divulgado que pela primeira vez desde 2009 na primeira fase de candidatura ao ensino superior a procura é maior que a oferta o que é bom, a qualificação é um bem de primeira necessidade, para TODOS.
Se a estes dados acrescentarmos que a taxa de desemprego na população com deficiência é estimada em 70-75% e que o risco de pobreza é 25% superior à população sem deficiência e que Portugal se orgulha de ter perto de 98% dos alunos com necessidades especiais a frequentar as escolas de ensino regular no período de escolaridade obrigatória, temos um cenário que nos deve merecer a maior atenção.
Como tantas vezes tenho dito, aqui e nos espaços e contextos da lida profissional, a questão da presença dos alunos começa no que é feito no ensino básico e secundário.
Por outro lado é fundamental que com clareza, sem ambiguidades ou equívocos se entenda que após a escolaridade obrigatória os jovens, TODOS os jovens, têm três vias disponíveis formação profissional, formação escolar (ensino superior) ou mercado de trabalho (trabalho na comunidade, incluindo a economia social).
A realidade mostra que os jovens com necessidades especiais estão significativamente arredados destas vias e, voltamos ao mesmo, em muitas circunstâncias ao abrigo de práticas e modelos de resposta sob a capa da … inclusão. Muitos deles ficam entregados (não integrados) às famílias, o que alguém já designou como Ministério Casa ou encaminham-se para instituições onde, apesar de algumas experiências interessantes, se recicla a exclusão. As pessoas com NEE de diferente natureza depois dos 18 anos devem ser, estar, participar e pertencer aos contextos que todas as outras pessoas com mais de 18 anos estão. As instituições ou voltar para a família serão sempre um recurso e nunca uma via.
De novo, a inclusão assenta em cinco dimensões fundamentais, Ser (pessoa com direitos), Estar (na comunidade a que se pertence da mesma forma que estão todas as outras pessoas), Participar (envolver-se activamente da forma possível nas actividades comuns), Aprender (tendo sempre por referência os currículos gerais) e Pertencer (sentir-se e ser reconhecido como membro da comunidade). A estas cinco dimensões acrescem dois princípios inalienáveis, autodeterminação e autonomia e independência.
As pessoas com NEE de diferente natureza depois dos 18 anos devem ser, estar, participar e pertencer aos contextos que todas as outras pessoas com mais de 18 anos estão.
É também claro que no âmbito do ensino superior importa que se proceda a ajustamentos de natureza diversa, atitudes, representações expectativas, oferta formativa, custos, acessibilidades, e cursos e apoios ou, como disse, promover melhor articulação com o ensino secundário
Dados de 2014 mostram que 94 de 291 instituições do ensino superior afirmaram a existência de serviços de apoio para alunos com deficiência. Actualmente a esmagadora maioria dos estabelecimentos, públicos e privados afirma disponibilizar esses serviços.
No entanto, para além de aspectos mais evidentes como a acessibilidade, creio que o apoio pedagógico e a utilização de dispositivos diferenciados nos materiais de apoio das unidades curriculares, da diferenciação nos processos de avaliação ou o recurso às tecnologias, não serão os grandes obstáculos. Tenho alguma experiência de docência no superior com alunos com necessidades especiais e não sinto que sejam estas as questões centrais.
Também não creio que a questão central seja a existência obrigatória de “serviços de apoio” a alunos com deficiência embora tal possa depender da dimensão da instituição. Do meu ponto de vista, procurar responder da forma a adequada às necessidades de TODOS os seus alunos é a essência do trabalho de qualquer instituição educativa e de qualquer docente, com maior ou menor dificuldade.
A questão mais importante decorrerá, creio, das barreiras psicológicas e das atitudes, pessoais e institucionais, seja de professores, direcções de escola, da restante comunidade, incluindo, naturalmente, professores do ensino básico e secundário e de "educação especial" técnicos, os alunos com necessidades especiais e famílias
Também é minha convicção de que as preocupações com a frequência do ensino superior por parte de alunos com necessidades especiais é fundamentalmente dirigida aos alunos que manterão as capacidades suficientes para aceder com sucesso à oferta formativa tal como ela existe. Estou a referir-me, evidentemente, aos alunos que não têm “diagnóstico” de problemas de natureza cognitiva.
No entanto, como disse, esta preocupação deveria ser mais alargada, estamos a falar de inclusão e agora, se quiserem, da minha utopia.
Porque não podem frequentar estabelecimentos de ensino superior? Sim, frequentar o ensino superior onde estão jovens da sua idade e em que a oferta formativa se for repensada e a experiência de vida proporcionada podem ser importantes.
Não, não é nenhuma utopia. Muitas experiências noutras paragens mas também por cá mostram que não é utopia.
O primeiro passo é o mais difícil, tantas vezes o tenho afirmado. É acreditar que eles são capazes e entender que é assim que deve ser.