quarta-feira, 9 de agosto de 2017

OS INDEPENDENTES E OS DEPENDENTES

Depois de terminada a entrega das candidaturas para as próximas autárquicas parece verificar-se um aumento de candidaturas de cidadãos ou movimentos independentes para além da habitual presença de “independentes” nas candidaturas partidárias. Esta situação acontece apesar das disposições da Lei Eleitoral Autárquica serem ainda mais amigáveis para candidaturas com origem nos aparelhos partidários.
Em princípio e do meu ponto de vista, este movimento pode reforçar a saúde da democracia que não deve esgotar-se nas estruturas partidárias. Aliás, a designação é curiosa, os independentes, serão os que estão fora dos aparelhos partidários e os, presumo que "dependentes", serão os que "dependem" das estruturas partidárias. Teremos, pois, que nos decidir por independentes ou por dependentes.
No entanto, é de referir que um número significativo de “independentes” que se apresentaram e apresentarão a eleições enquanto tal, o fizeram por não terem sido objecto de escolha dos partidos a que pertenciam ou em situação de litígio, ou seja, se tivessem sido os escolhidos ou não tivessem tido algum desaguisado partidário ter-se-iam candidatado pelo “partidinho”. Esta nota não retira a importância de candidaturas verdadeiramente fora dos aparelhos partidários.
A verdade, muitas vezes o tenho escrito, é que no actual quadro político-administrativo é muito difícil a intervenção cívica, no sentido político, fora da tutela dos aparelhos partidários cuja praxis criou uma “partidocracia” que minou a confiança e tem provocado o afastamento dos cidadãos pelo que se percebe a afirmação da necessidade de mudança.
Verifica-se também que a capacidade de mobilização dos partidos se dirige, sobretudo, a uma minoria de pessoas que emerge dos respectivos aparelhos que, assim, podem aceder e manter alguma forma de poder e a uma maioria que enche autocarros, recebe uns brindes e tem um almocinho de borla. A partidocracia não atrai porque os partidos se tornam donos da consciência política das pessoas, veja-se o espectáculo deprimente da Assembleia da República e o desempenho de boa parte dos deputados, salvo honrosas excepções vota-se o que o partido manda, independentemente da consciência.
Reconhece-se hoje que as camadas mais novas, sobretudo mas não só, atravessam uma situação complexa envolvendo os valores, a confiança nos projectos de vida, os estilos de vida, etc. Neste quadro, a adesão à intervenção política, tal como se verifica genericamente em Portugal, parece mais uma parte do problema, é velha a partidocracia para responder a problemas novos, que um caminho para a solução.
Creio que o descontentamento e desconfiança de muitos dos cidadãos, traduzidos em percentagens de abstenção acima dos 50%, mostram que importa pensar numa participação política para lá dos partidos. Várias manifestações com grande mobilização que escaparam à lógica da partidocracia, bem como iniciativas de grupos de cidadãos mobilizados por causas ou algumas candidaturas verdadeiramente fora do espectro partidário, dão sinais nesse sentido.
De tudo isto resulta, como muitas vezes refiro, o afastamento das pessoas pelo que a construção de outras formas de participação cívica parece ser a única forma possível de reformar o quadro político que temos, ou seja, os partidos ou definham ou mudam, pela pressão do exterior.
Existe, tem que existir política para além dos partidos, que se reformam ou tenderão a implodir com riscos para própria democracia cuja saúde já está debilitada.
De qualquer forma, como se diz no Meu Alentejo, deixe lá ver.

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