terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

O PESO DA NOTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO SECUNDÁRIO

O Bloco de Esquerda apresenta amanhã na Comissão de Educação e Ciência uma proposta de resolução a decisão do ME anunciada em 2016 de que a nota de Educação Física no ensino Secundário volte a ser considerada o cálculo da média final para acesso ao ensino superior entre em vigor para os alunos que ingressem no secundário no próximo ano lectivo.
A este propósito retomo o que escrevi na altura do anúncio da intenção do Ministério da Educação e que também abordei em texto no Público.
“(…) 
O desinvestimento na Educação Física foi nítido na anterior equipa do ME. O “primeiro sinal” foi a redução em 2012 da carga horária no 3º ciclo e no ensino secundário.
O “segundo sinal” foi o facto de ter sido decidido que a nota da disciplina de Educação Física deixasse de contar para o apuramento da média final do ensino secundário para efeitos de acesso ao ensino superior, embora usada para alunos que pretendam prosseguir estudos nesta área ou para cálculo da média de conclusão de estudos secundários.
A medida evidenciou desde logo um aspecto incompreensível, a atribuição de um estatuto de segunda a uma disciplina que como outras de carácter geral integram os currículos. Por outro lado, o efeito de desvalorização da disciplina contrariando orientações europeias, que começou com um decréscimo das horas desta disciplina definidas nas novas matrizes curriculares, num país caracterizado por um excesso de sedentarismo nos estilos de vida dos jovens, seria de considerar. Na verdade se um dos grandes problemas que afecta a qualidade de vida de adolescentes e jovens é, justamente, o sedentarismo, como compreender o desinvestimento na disciplina de Educação Física que tem vindo a acontecer.
Como exemplo, recordo um trabalho da Universidade de Coimbra divulgado em 2013 que sublinhava, mais uma vez, o impacto que o sedentarismo tem na saúde das crianças. Este estudo envolveu 17424 crianças entre os 3 e os 11 anos e mostrou a forte relação entre hábitos fortemente sedentários, ver televisão por exemplo, e obesidade infantil e óbvias consequências na saúde e bem-estar dos miúdos.
Um outro trabalho de 2012 da Faculdade de Motricidade Humana envolvendo cerca de 3000 alunos mostrava o efeito positivo da actividade física no rendimento escolar para além dos benefícios óbvios na saúde.
Também em 2012, um trabalho divulgado na Lancet referia que em Portugal, entre os adolescentes, dos 13 aos 15, quatro em cada cinco não são fisicamente activos.
Voltando à questão da Educação Física, a razão da decisão de retirar a nota do cálculo da média de acesso remetia para um potencial enviesamento que as notas de Educação Física poderão ter no acesso ao Ensino Superior, o velho exemplo do aluno que quer ser médico mas não tem "jeito para a ginástica". Eventualmente, poderá acontecer também falta de "jeito para a Filosofia ou para o Inglês" sem que se justifique retirar estas disciplinas do cálculo da média de acesso.
No entanto, do meu ponto de vista, esta questão só acontecia e acontece porque, digo-o de há muito, a conclusão e certificação de conclusão do ensino secundário e a candidatura ao ensino superior se sobrepõem quando deveriam ser processos separados.
Os exames nacionais destinam-se, conjugados com a avaliação realizada nas escolas, a avaliar e certificar o trabalho escolar produzido pelos alunos do ensino secundário e que, obviamente, está sediado no ensino secundário. Neste cenário caberiam todas as modalidades que permitem a equivalência ao ensino secundário, como o ensino recorrente.
O acesso ao ensino superior é, deveria ser, um outro processo que se desenrolaria sob a responsabilidade do ensino superior.
Parece-me pois importante que a Educação Física recupere um estatuto de disciplina nobre e que, por outro lado, se considere a necessidade de repensar o dispositivo de acesso ao ensino superior.”
Na verdade são duas problemáticas diferenciadas, a importância e valorização da Educação Física e o processo de entrada ao ensino superior como ainda há dias aqui escrevi.

2 comentários:

Reitor disse...

Ui Zé, valente tropeção. atão a educação Física conta para "conclusão dos estudos secundários"?
A pressa de defenderes o teu bloco faz-te parecer ignorante. Estuda mais uma pouco antes de deitares faladura. Já pareces o Marcelo. Ou o Marques Mendes!

Zé Morgado disse...

Ui Reitor! Duas notas.
Não leste oque escrevi. A questão é contar óu não para o cálculo da média de acesso, não é contar para a "conclusão do secundário" que é uma questão óbvia. Acresce que a minha ideia é que deveria ser alterado o mecanismo do acesso e estas questões (notas "marteladas" por algumas escolas por exemplo) deixavam de se colocar desta maneira.
Segunda nota, Falhaste de novo, há muitos anos que sem qualquer ponta de orgulho sou um abstencionista militante, donde a referência ao Bloco ... foi mesmo ao lado