segunda-feira, 12 de março de 2018

DA FLEXIBILIDADE CURRICULAR


A imprensa de hoje refere algumas inquietações entre pais, professores e directores de escola relativamente ao projecto-piloto de autonomia e flexibilidade curricular em desenvolvimento em 233 escolas. As questões centram-se sobretudo no impacto que alguns admitem existir no desempenho dos alunos em exames nacionais uma vez que os currículos permanecem inalterados e teme-se que a existência de efeitos. São também referidos alguns aspectos como burocracia acrescida e sobrecarga no trabalho de professores.
Há algumas semanas, creio que o JN, também divulgava algumas reservas de pais e directores mais centradas no ensino secundário.
Ao que parece, boa parte das escolas mesmo as envolvidas no projecto não estarão a introduzir mudanças no 10º ano apesar de as entenderem globalmente positivas pois não sabem que reflexo essa alteração poderá ter no desempenho dos alunos nos exames. Aliás, referem mesmo a existência de “Medo dos exames nacionais”.
Na visita de Janeiro no âmbito do acompanhamento do projecto por parte da OCDE, Andreas Schleicher, o seu director do Departamento de Educação, também se referiu à dificuldade de conciliar o modelo de flexibilidade curricular com a norma curricular para os exames.
Aliás, na peça do JN aparecia escrito algo que me causa a maior perplexidade, “se o ME não resolver o "dilema" entre os dois métodos de ensino, este receio pode revelar-se um obstáculo à generalização do projecto”.
Na altura escrevi “E voltamos ao mesmo, ou seja, à revolução, à inovação, ao novo paradigma, aqui expresso em modo dicotómico, “dois métodos de ensino”. Presumo que um é o “bom” e o outro é o “mau”. Quais “métodos de ensino”? Será assim? O trabalho em sala de aula pode ser assim “arrumado”? Que enorme conjunto de equívocos este enunciado contém!”
No entanto e do meu ponto de vista existe uma outra questão e que também a propósito das referências de hoje na imprensa julgo merecer reflexão.
De facto, importaria que as mudanças ou experimentação em educação entendidas por necessárias, e estas são, não se realizassem de forma apressada, sem um consenso tão sólido quanto possível sobre objectivos, conteúdos e calendário e a consideração prévia das condições e requisitos que sustentem as mudanças em execução com um mínimo de sobressaltos e que, reafirmo, me parecem necessárias e num sentido positivo.
Como muitas vezes refiro, é tão importante "fazer as coisas certas como fazer certas as coisas". Se bem repararmos nem sempre isto se verifica, mesmo na nossa acção individual. Em políticas públicas é ainda mais necessário.
É claro o risco de transformar algo de positivo num problema. Eu sei que não é fácil prever tudo, que as mudanças mesmo quando necessárias têm custos mas existem situações em que os problemas devem ser mínimos. Poder criar-se um efeito e uma representação negativa sobre a mudança, alimentam-se as opiniões críticas face a essa mudança, surgem dificuldades dispensáveis aos alunos e escolas e finalmente, comprometem-se os próprios resultados.
Eu sei que não é fácil prever tudo mas existem situações em que as perturbações devem ser mínimas. Os sobressaltos e hesitações podem criar um efeito e uma representação negativa sobre a mudança, alimentam as opiniões críticas face a essa mudança como tem estado patente, colocam dificuldades dispensáveis aos alunos e escolas e finalmente, comprometem-se os próprios resultados fragilizando o entendimento o que é essencial.

Sem comentários: