terça-feira, 6 de março de 2018

ESTUDAR COMPENSA, DEFINITIVAMENTE

O Público de hoje referencia um trabalho que merece reflexão e também acção consequente.
Por iniciativa da Direcção-Geral do Ensino Superior, Diana Aguiar Vieira, investigadora e pró-presidente do Instituto Politécnico do Porto realizou o estudo “Determinantes e Significados do Ingresso dos Jovens no Ensino Superior” inquirindo alunos e profissionais no âmbito do ensino secundário com o objectivo de compreender a forma como o  ingresso no ensino superior é percebido.
Alguns dos indicadores mais relevantes.
Os alunos identificam como travão no ingresso no ensino superior a existência de “barreiras financeiras”, propinas, alojamento, transportes e alimentação, por exemplo. Apesar disso também desconhecem genericamente alguns dos apoios existentes neste âmbito.
No entanto, o que me parece mais significativo é manutenção da ideia de que “estudar não compensa” que está errada. Talvez seja de recuperar o Relatório da OCDE, "Education at a Glance 2017" que mostrava que a diferença salarial de jovens com licenciatura para jovens com formação a nível do secundário, é de 69 %, um bom indicador para o impacto da qualificação. Para comparação a média na OCDE é de 54%.
Recordo ainda um trabalho de 2017, por iniciativa da  Fundação Francisco Manuel dos Santos, “Benefícios do Ensino Superior” realizado por Hugo Figueiredo e Miguel Portela que evidencia como a qualificação de nível superior compensa sendo o impacto ainda mais significativo com o mestrado.
O trabalho abrangeu o período ente 2006 e 2015 e considerou a população mais jovem, dez ou menos anos de experiência profissional e é mais um contributo para uma questão que muitas vezes é tratada com alguns equívocos.
O primeiro, radica no discurso recorrentemente difundido, ampliado por alguma imprensa preguiçosa, de que, dada a enorme taxa de desemprego de jovens com qualificação superior, o investimento numa qualificação superior não compensa pois não existe mercado de trabalho, alguns empregos que surgem são precários e mal pagos e muita gente qualificada está a ser empurrada para fora por falta de futuro cá.
Um outro equívoco remete para o estatuto salarial. Apesar da política de proletarização do mercado de trabalho, da precariedade e do manhoso recurso a estágios, nem sempre remunerados ou seguidos de emprego, a formação superior ainda compensa.
Aliás, de acordo com um estudo do Conselho Nacional de Educação divulgado em 2015 um indivíduo com formação universitária, ao longo da vida activa, ganhará mais cerca de 1,7 milhões de euros face a alguém com o 9º ano. Mesmo comparando com o 12º ano a diferença continua muito significativa.
É claro que não podemos esquecer o nível ainda significativo de desemprego entre os jovens, em particular entre os jovens com qualificação superior, obrigando tantos a partir à procura de um futuro que por cá não vislumbram mas esta questão decorre do baixo nível de desenvolvimento do nosso mercado de trabalho, de circunstâncias conjunturais e de erradas políticas de emprego e não da sua qualificação.
Neste cenário e como sempre afirmo, o discurso muitas vezes produzido no sentido de que "não adianta estudar" não colhe e não tem sustentação sendo “suicida” numa sociedade pouco qualificada como a nossa que, efectivamente e contrariamente à tão afirmada quanto errada ideia de que somos um país de doutores, continua, em termos europeus, com uma das mais baixas taxas de qualificação superior em todas as faixas etárias incluindo as mais jovens.
Conseguir níveis de qualificação compensa sempre e é imprescindível. Estudar e conseguir qualificação de nível superior compensa ainda mais.
Portugal não tem gente qualificada a mais, tem é desenvolvimento a menos. Temos também um mercado de trabalho que a cegueira da austeridade e do empobrecimento proletarizou e que não absorve uma parte significativa da mão-de-obra qualificada, sobretudo jovem. Não podemos acolher a mensagem de que a qualificação não é uma mais-valia.
É um tiro no pé.

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