quarta-feira, 16 de maio de 2018

EM CASA DOS PAIS ATÉ ... VAMOS VER QUANDO


No Público de ontem referiam-se dados do Eurostat relativos a 2017 segundo os quais os jovens portugueses abandonam a casa dos pais cerca dos 29.2 anos em média.
A este propósito recordo que em Janeiro a Caritas  divulgou um Relatório sobre Portugal “Os jovens na Europa precisam de um futuro!” no qual caracteriza a dificuldade dos jovens portugueses em construir projectos de vida autónomos e positivos.
Nesse trabalho são identificados como dimensões críticas a dificuldade em aceder a trabalho digno, a precariedade laboral, os custos elevados da educação e qualificação e os elevados custos no acesso, renda ou compra, de habitação.
Este cenário ajuda a perceber algumas das mais fortes razões pelas quais os jovens em Portugal abandonam a casa dos pais em média aos 29,2 anos e a tendência é de que tal aconteça cada vez mais tarde. Como é habitual nos países nórdicos verifica-se a saída mais precoce, cerca dos 21anos e no sul da Europa estão os países com a saída mais tardia e nos quais se inclui Portugal. Como já referi, para além das questões de natureza cultural e de valores que importa considerar bem como as políticas de família nos países do norte da Europa, as actuais circunstâncias de vida dos jovens sustentam este cenário que provavelmente demorará a ser revertido.
Segundo o INE e considerando o primeiro trimestre de 2017, existiriam em Portugal cerca de 175 mil jovens entre os 15 e os 29 anos que não estudam, nem trabalham, a geração “nem, nem" ou, na terminologia em inglês os jovens NEET (Not in Education, Employment or Training).
Destes, estima-se que perto de 67 mil não estão inscritos nos centros de emprego. São números impressionantes.
Parece importante assinalar que esta situação afecta sobretudo jovens com menos qualificações e mulheres, o que também não é novo. A exclusão escolar é quase sempre a primeira etapa da exclusão social.
Por outro lado, bem mais de 100 000 jovens, sobretudo qualificados, têm vindo a sair do país, emigrando para outras paragens em busca de uma futuro que por cá não vislumbram.
A estes indicadores já profundamente inquietantes deve juntar-se os dados sobre precariedade, abuso do recurso a estágios e outras modalidades de aproveitamento de mão-de-obra barata e a prática de vencimentos que mais parecem subsídios de sobrevivência mesmo para jovens altamente qualificados.
Esta situação complexa e de difícil ultrapassagem tem obviamente sérias repercussões nos projectos de vida das gerações que estão a bater à porta da vida activa. Entre outras, contar-se-ão, os dados hoje conhecidos mostram-no, o retardar da saída de casa dos pais por dificuldade no acesso a condições de aquisição ou aluguer de habitação própria ou o adiar de projectos de paternidade e maternidade que por sua vez se repercutem no inverno demográfico que atravessamos e que é uma forte preocupação no que respeita à sustentabilidade dos sistemas sociais. As gerações mais novas que experimentam enormes dificuldades na entrada sustentada na vida activa, vão também, muito provavelmente, conhecer sérias dificuldades no fim da sua carreira profissional.
No entanto, um efeito muito significativo mas menos tangível desta precariedade no emprego, é a promoção de uma dimensão psicológica de precariedade face à própria vida no seu todo e que, com alguma frequência, os discursos das lideranças políticas acentuam. Dito de outra maneira, pode instalar-se, está a instalar-se nos jovens, uma desesperança que desmotiva e faz desistir da luta por um projecto de vida de que se não vislumbra saída mobilizadora e que recompense.
O aconchego da casa dos pais pode ser a escapatória para a sobrevivência.

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